Interrupção da fantasia, um choque de realidade, um disparo que transforma o mantra em gritos, a bolha do amor e a bolha do medo encontram-se no ar – a visão binária desse encontro ficou turva, confundiu a própria crença, parece não haver diferença entre as duas.
Havia desligado da bolha de fora, mergulhado na natureza e desconectada de qualquer comunicação com o outro mundo, as redes sociais não dominavam tanto a minha vida na época (já hoje), os poucos contatos que mantive era com os familiares e amigues mais pertos.
Fui adentrando cada vez mais na natureza, e descobri que a água profunda e a mata fechada me causavam medo; estava no limite e as ferramentas que foram apresentadas me faziam adentrar mais ainda na natureza, tive que compostar os meus medos, criar nova terra, adubar um solo arenoso, e quando comecei a enxergar fora do medo, comecei a bioconstruir novas paredes. Até precisar entregar tudo que ainda restava, esvaziar, ficar sem comer, raspar o cabelo, falar o necessário e estar entregue a tudo aquilo que no momento parecia invisível – e aqui neste momento não encontrei o medo, descobri uma nova bolha a do amor.

Não estava sozinha dentro dessa bolha, uma família se formava ali, todes esvaziando e desconectados do mundo de fora, de alguma maneira, buscamos fugir daquele outro mundo em que o medo dominava, e ali nos encontramos juntes.
Até… o mundo de fora chamar para uma nova visita!
Era seguro fazer movimento tão cedo? Não, não era… mas fomos mesmo assim.
Estávamos em família, essa era a base que nos fazia sentir seguros no mundo. Atravessamos o rio, caminhamos costeando o mar, até nossos pés pisarem novamente em paralelepípedos, o som da cidades começar a tocar em nossos ouvidos e o cheiro de várias comidas começaram a aguçar nossos desejos, a vontade era de “comer o mundo” mas não encontrava mais sabores – alegrei com o pão branco francês e o suco de laranja.
A sensação de confusão, misturada com a alegria de estar em família e descobrir um mundo de novo, fazia com que os passos fossem leves.
Até chegarmos na rodoviária que nos levaria até o nosso destino, o violão tocava, estávamos felizes, éramos seres estranhos naquele lugar, tudo ocorria bem…
De Repente um tiro, gritos, tiro, gritos, tiro, uma voz “Ele está vindo pra cá”
todo aquele momento de felicidade entre família, virou grito e correria – gatilho de memórias – cada um correu para um canto, alguns atropelando outros – outros por cima de outros tentando protegê-los. Minutos que foram horas, e tudo voltou a ser calmaria com tremedeira. O riso de desespero, o choro incontrolável e o silêncio do choque.
O mundo de fora nos trouxe a lembrança dos nossos gatilhos – quem acorda quando o medo toma conta, e quem adormece quando abafamos a realidade do mundo.
Uma breve história, vivida entre o ano de 2015 e 2016 na Bahia.
Ps.: Não tinha nenhuma foto que representasse algum dos momentos escritos no texto, então coloquei uma foto que foi tirada depois do acontecimento, eu espelhada em águas profundas.
Com Amor
Marthina