…Cultivei um jardim no cimento, para proteger o meu casulo, e hoje eu o abro! É hora de bater asas!
Prédio cinza, condomínio familiar, três andares, a criança grita no primeiro andar, a cada porta que abre o cachorro late no segundo andar, ao mesmo tempo que alguém sapateia no terceiro andar.
Quanto mais silêncio, mais sons misteriosos atravessam as paredes.
A rua movimenta-se lá fora no tempo de um relógio objeto, direcionando tempos plásticos aos corpos vibrantes.
Recolhida no interior, entre paredes cinzas, montanhas distantes vistas pelas janelas, livros no chão da sala por que ainda não encontraram a sua estante, plantas sedentas por água, cortinas levemente fechadas velando a existência daquele mundo de dentro, curiosamente avistado pelos olhos de fora.
O barulho da janela que abre pela manhã, aguça a atenção daquele que lê o jornal na varanda do vizinho, que direciona automaticamente o olhar, tentando enxergar o que acontece no íntimo por detrás da janela.
Como se o olhar distante que objetifica dissesse que “É proibido ser SAFADA” do outro lado da parede.
O barulho do silêncio, revela a melodia do tédio escondido entre paredes, gemidos lúdicos aceleram os passos de um cômodo ao outros, respiração profunda fazem com que as janelas batam, e as portas rangem a cada movimento mais intenso, corpos aquecidos desenrolam sentidos enquanto as paredes vibram.
A porta do banheiro bateu com tudo, enquanto a ondulação de risos dominava aquele espaço quente, como se gritasse enlouquecidamente “É proibido ser SAFADA no silêncio”.

Começo hoje compartilhando esse conto escrito na Oficina de Escrita “ Escreva: Leia Depois” com o Fred Paiva, com base na frase “É proibido ser safado” .
E com esse conto me despeço de mais uma casa/lar que essa peregrina habitou! Transformar um pedaço quadrado cor branco gelo – em lar, e buscar isolamento no isolamento de uma pandemia.
Depois de um ciclo de 2 anos morando com muitas pessoas em diferentes casas (uma média de 15 casas), repletas de influências distintas – só queria um lar sozinha, eu e as paredes cinzas, mais uma oportunidade de reconstruir uma nova expressão do EU!
O apartamento MamaPacha – Foi um casulo para que eu pudesse refazer minhas asas –
Faz 1 ano e 8 meses que cultivei um jardim no cimento, para proteger o meu casulo, e hoje o abro!
Partindo para um novo destino, encontrar um lar em outra casa, me fazer abrigo no inverno que já anuncia sua intensidade, e compartilhar novas criações que se fizeram no íntimo.
Até o novo LAR!
Com Amor
Marthina